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Quem Jerônimo venceu, afinal? – Artigo de Éden Valadares

Data de publicação: 25/01/2023

A mais nova tentativa do ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, de encontrar um microfone, uma tribuna, um lugar de fala – como se diz por aí – e sair do ostracismo político que as urnas o levaram em 2022, é atribuir ao presidente Lula a sua derrota eleitoral para o Governo da Bahia no ano passado. Como vê, dia a dia, a real possibilidade de perder a capacidade de liderar a oposição baiana se consolidando, o eterno demista cria falsas polêmicas para voltar de alguma maneira aos holofotes.

 

Em recente entrevista a uma conceituada rádio da nossa capital, perguntado se acreditava ter perdido para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e não para o governador Jerônimo Rodrigues, respondeu: “Sem dúvidas”.  Seguindo a mesma toada, o prefeito Bruno Reis e Paulo Souto, em declarações posteriores, também afirmaram que seu grupo fora derrotado – desde o ano de 2006 – por Lula e tão somente. Nada importa a habilidade política, a capacidade de gestão ou desenvoltura dos candidatos petistas. Menos ainda as articulações sociais e partidárias construídas para estas disputas. Paulo Souto, José Ronaldo e, sobretudo, ACM Neto perderam única e exclusivamente para o filho de Dona Lindú. Resta, portanto, aos olhos do eleitorado baiano uma pergunta óbvia: “Se Neto perdeu para Lula, então Jerônimo ganhou de quem?”. Respondo eu.

 

Jerônimo venceu a prepotência, a arrogância, o nariz em pé daquele que se considera herdeiro legítimo dessa terra, algo como príncipe, alguém que fantasiosamente imagina que a Bahia um dia será “dele” (aspas minhas) e por isso se “preparou a vida inteira para isso” (aspas dele). Jerônimo derrotou a política do eu sozinho, do individualismo, que expõe e humilha aliados em praça pública – como ficou evidente na escolha da candidatura a vice. Jerônimo suplantou a velha política do atraso disfarçada de modernidade e fez mais.

 

Ele superou a desconfiança inicial, percorreu os quatro cantos da Bahia olhando nos olhos e dialogando honestamente com nosso povo, seu povo, que nele e na sua história se viu, se reconheceu. Jerônimo venceu acreditando na renovação e promoveu toda uma nova geração. Jerônimo ganhou a confiança dos partidos aliados, dos prefeitos, dos parlamentares e do movimento social. Jerônimo é um vitorioso na vida e assim foi nas eleições porque sabe a importância da política, da boa política, plural, emancipadora, reparatória; de, para e com todos e todas.

 

Se o ex-prefeito estiver certo e foi Lula quem o derrotou, é ainda mais verdade que Jerônimo venceu o que ACM Neto significaria: o retorno de um passado sombrio e a projeção de um futuro onde o pessoal se sobreponha ao que é coletivo. Ficamos assim, então: ACM perdeu para Lula; e Jerônimo derrotou Neto.

 

Éden Valadares, 41, é presidente do PT Bahia.

 

Artigo originalmente publicado no jornal A Tarde. 

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